A busca pelo sonho de cursar medicina, uma profissão altamente desejada por muitos brasileiros, tem levado cada vez mais jovens a migrar para o Paraguai. A razão é simples: mensalidades mais acessíveis e a possibilidade de ingresso facilitado, longe da alta concorrência das universidades públicas do Brasil. Em 2024, mais de 48 mil brasileiros estavam com visto de estudante no país vizinho, e o número continua a crescer.
Em Foz do Iguaçu, cidade paranaense localizada na fronteira com o Paraguai, o movimento de estudantes que cruzam a Ponte da Amizade diariamente em busca da formação em medicina tem se tornado cada vez mais evidente. A cidade, assim como outras localidades brasileiras de fronteira como Ponta Porã e Corumbá, se tornou um ponto de partida para muitos que veem no Paraguai uma chance de realizar esse sonho de maneira mais viável financeiramente.
Acessibilidade e custos mais baixos atraem estudantes
A principal motivação para essa migração é, sem dúvida, o custo. No Paraguai, é possível encontrar cursos de medicina com mensalidades a partir de R$ 900, um valor muito abaixo do que é praticado no Brasil, onde os primeiros anos de faculdade podem custar cerca de R$ 5 mil por mês, e o valor total da graduação pode ultrapassar os R$ 16 mil mensais em algumas instituições privadas.
No entanto, embora o custo-benefício seja um atrativo inegável, há desafios consideráveis para os estudantes. O principal deles é o idioma: a língua oficial do país é o espanhol, e a maioria das aulas é ministrada nesse idioma, o que exige que os alunos dominem a língua ou se adaptem a ela rapidamente. Além disso, ao retornar ao Brasil, os formados precisam passar no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) para poderem atuar como médicos no país.
A realidade dos estudantes em Cidade do Leste
Cidade do Leste, no Paraguai, que está a poucos minutos de Foz do Iguaçu, abriga um grande número de brasileiros que buscam a graduação em medicina. Estima-se que cerca de 30 mil estudantes brasileiros estejam na cidade, buscando uma educação superior com custos mais acessíveis. As opções de universidades são variadas, com cerca de 24 instituições habilitadas a oferecer cursos de medicina, de acordo com informações não oficiais do Consulado-Geral do Brasil em Cidade do Leste.
Para ingressar, os estudantes não enfrentam um processo seletivo tradicional, como o vestibular no Brasil. Algumas universidades exigem apenas a comprovação de fluência em espanhol e a apresentação de documentos que atestem a capacidade de acompanhar as aulas. Outras instituições oferecem cursos de nivelamento para aqueles que ainda não dominam o idioma, permitindo que eles se adaptem ao sistema educacional paraguaio.
Desafios do sistema educacional paraguaio
Embora o custo mais baixo seja atraente, a qualidade do ensino e a infraestrutura das instituições são aspectos fundamentais que os estudantes devem avaliar antes de tomar a decisão. Medicina é um curso que exige laboratórios bem equipados e parceria com hospitais para que os alunos possam adquirir experiência prática. A orientação é que os estudantes investiguem a qualidade dessas infraestruturas nas universidades de sua escolha.
Outro ponto importante é a modalidade do curso. No Brasil, a maioria das faculdades adota um modelo semestral, com dois períodos de seis meses cada, enquanto algumas instituições paraguaias adotam o modelo anual. Por isso, é fundamental que o aluno se informe sobre a estrutura acadêmica antes de iniciar a matrícula.
Morar no Paraguai ou no Brasil: qual a melhor opção?
Outro dilema enfrentado pelos estudantes é a decisão sobre onde morar durante o período de estudos. Muitos optam por residir em Foz do Iguaçu, cruzando a ponte diariamente para acessar as aulas em Cidade do Leste. Essa opção oferece a vantagem de morar em um país com o qual o estudante já está familiarizado e ter acesso a serviços e comércio brasileiros.
Entretanto, morar no Paraguai também é uma opção viável, especialmente considerando que algumas universidades oferecem apoio aos estudantes estrangeiros, com assessoria para trâmites de documentação e programas de integração cultural. Estudantes que escolhem viver no Paraguai precisam buscar o visto de estudante e a cédula de identidade paraguaia, o que pode ser um processo demorado e burocrático.
O aprendizado de medicina em espanhol e o Revalida
Uma das maiores dificuldades relatadas por estudantes é o desafio de aprender medicina em espanhol. Apesar disso, muitos afirmam que a adaptação ao idioma não é um obstáculo intransponível. Exemplo disso é o médico Thallys Santana Dias, que se formou no Paraguai e, mesmo não sabendo espanhol inicialmente, conseguiu aprender o idioma com o tempo e apoio dos professores. Após passar pelo processo do Revalida, Thallys hoje trabalha em São Paulo, sem sentir dificuldades em sua atuação profissional no Brasil.
Para atuar no Brasil, os médicos formados no exterior precisam passar no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida), um processo que garante que os profissionais estejam aptos a atuar no país. O exame é composto por duas etapas: uma prova escrita e uma avaliação de habilidades clínicas. A aprovação no Revalida é fundamental para garantir que médicos formados fora do Brasil possam atuar no Sistema Único de Saúde (SUS) e em outras instituições de saúde.
Conclusão: uma escolha que exige planejamento
A migração de brasileiros para o Paraguai em busca de formação em medicina tem crescido significativamente, e a decisão de seguir esse caminho envolve tanto oportunidades quanto desafios. A principal vantagem é o custo mais acessível, mas é importante que os estudantes considerem fatores como a adaptação ao idioma, a qualidade do ensino e o processo de revalidação do diploma ao retornar ao Brasil.
A busca por um diploma de medicina no exterior, especialmente no Paraguai, tem se mostrado uma alternativa válida para muitos, mas exige preparo, dedicação e planejamento para garantir que o sonho de se tornar médico se transforme em realidade, tanto no Paraguai quanto no Brasil.
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